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Reciclagem de plástico: conheça os diferentes processos

Crianças fazendo reciclagem do plástico.

A reciclagem de plástico tem ganhado cada vez mais destaque como uma solução alternativa e sustentável para o desafio global do descarte adequado do material. O plástico é um dos materiais mais versáteis e amplamente utilizados na sociedade moderna, estando presente em diversos setores, como eletrodomésticos, máquinas e equipamentos, construção civil, cosméticos, calçados, tintas, vestuário, móveis, embalagens celulares, veículos e até equipamentos médicos que salvam vidas. Isso reforça a importância de buscarmos alternativas para seu reaproveitamento e destinação adequada. 

A reciclagem é uma maneira eficiente de dar um novo uso aos resíduos, contribuindo para a economia circular, economizando recursos naturais finitos e reduzindo o impacto ambiental. Além disso, incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias e processos que visam transformar o plástico descartado em produtos úteis e sustentáveis, criando valor e promovendo uma cultura de reutilização.

Neste artigo, vamos explorar os principais processos de reciclagem de plástico, explicando como cada um deles funciona, suas vantagens e desafios. Você também vai conhecer a situação da reciclagem de plástico no Brasil e como esse movimento está ajudando a construir um futuro mais verde. 

O que é a reciclagem de plástico?

Trator realizando a reciclagem do plástico.

A reciclagem do plástico é o processo de converter resíduos plásticos pós-consumo em novos produtos, promovendo a reutilização de materiais e reduzindo a necessidade de extração de matérias-primas virgens. Esse processo envolve diversas etapas, que começam pela coleta dos materiais e incluem a separação por tipo de plástico, limpeza, e a transformação dos resíduos em novos produtos prontos para uso. A reciclagem do plástico não só evita o descarte em aterros, mas também contribui para a criação de uma cadeia produtiva mais sustentável e alinhada com os princípios da economia circular.

Existem vários tipos de plásticos, como PET, PEAD, PVC, PEBD, PP, PS e outros, cada um com características únicas que influenciam o tipo de reciclagem mais adequado. Entender essas diferenças é fundamental para escolher o processo de reciclagem correto e garantir a máxima eficiência na reutilização dos materiais. 

Vamos explorar agora os principais processos de reciclagem de plástico e como eles são realizados.

1. Reciclagem Mecânica

A reciclagem mecânica é a mais comum e amplamente utilizada para reciclar plásticos. É o processamento de resíduos plásticos em matérias-primas ou produtos secundários sem alterar significativamente a estrutura química do material. Em princípio, todos os tipos de termoplásticos podem ser reciclados mecanicamente com pouco ou nenhum impacto na qualidade. Nesse processo, existe apenas a alteração física da matéria-prima (o plástico é apenas triturado, lavado e transformado em produtos reciclados sem alteração química), pois seus polímeros básicos continuam inalterados. Isto é, o plástico permanece na forma de polímero. Ele é apenas processado mecanicamente (limpo, triturado e reutilizado) para ser novamente aquecido e moldado para a produção de plásticos.

Esse tipo de reciclagem é mais comum para plásticos como PET, PEAD, PVC, PEBD, PP, PS e outros. Por exemplo, garrafas PET podem ser recicladas e transformadas em fibras têxteis para roupas, estofados e carpetes, enquanto embalagens de PEAD podem se tornar tubos de irrigação e novas embalagens.

A reciclagem mecânica é vantajosa por ser um processo relativamente simples e de baixo custo, e a reciclagem química vem para complementar à reciclagem mecânica, porque viabiliza: (1) uma alternativa adicional para eliminar os resíduos sólidos; e (2) matérias-primas produzidas a partir da reciclagem química por pirólise que podem ser utilizadas para produzir poliolefinas para contato com alimentos, que são aptas para uso em condições mais variadas (como altas temperaturas, período mais longo de prateleira) do que poliolefinas recicladas mecanicamente.

2. Reciclagem Química

A reciclagem química é o termo dado a um grupo de tecnologias que podem converter resíduos plásticos misturados e/ou contaminados novamente em matérias-primas “virgens”. Em outras palavras, é um processo mais complexo que envolve a quebra das moléculas do plástico em moléculas menores, transformando-o quimicamente em suas moléculas originais, que podem ser reutilizadas como matéria-prima para a produção de novos plásticos ou outros produtos químicos. Essa técnica é promissora porque permite reciclar plásticos que atualmente não possuem reciclabilidade mecanicamente, como filmes plásticos e plásticos misturados.

São conhecidos diferentes processos de reciclagem química de materiais plásticos, podendo ocorrer por degradação térmica (pirólise, gaseificação, hidrocraqueamento), por degradação catalítica ou degradação por solvente (solvólise). Alguns processos podem promover uma despolimerização parcial e obter oligômeros ou intermediários, como a glicólise. Outros podem despolimerizar ou degradar completamente os materiais de partida para obter monômeros com elevado grau de pureza, como a pirólise.

Um exemplo prático é a transformação de plásticos pós-consumo a partir de materiais plásticos em monômeros de etileno e propileno oriundos do óleo de pirólise, resultantes da reciclagem química por pirólise, para utilização em embalagens em contato com alimento. Outra aplicação é o uso de resíduos plásticos para produzir ceras e lubrificantes industriais.

3. Reciclagem por Pirólise

A pirólise é um processo que envolve o aquecimento de resíduos plásticos, flocos de poliolefinas e poliestireno que são submetidos a elevadas temperaturas, na ausência de oxigênio, para convertê-los em combustíveis líquidos ou gasosos, para iniciar a conversão química. A pirólise de poliolefinas e poliestireno pós-consumo é tipicamente realizada a 400-600°C.  

Os monômeros obtidos a partir de óleo de pirólise podem então ser transformados em polímeros que podem ser utilizados, por exemplo, para produzir embalagens de alimentos num processo circular.

Esse método é uma alternativa interessante porque consegue transformar plásticos com baixa reciclabilidade em produtos de valor agregado, como óleos e gases combustíveis, complementando a reciclagem mecânica.

Uma das grandes vantagens da reciclagem química é que ela não compromete a qualidade do material, permitindo a criação de plástico reciclado de alta qualidade. Por outro lado, o processo que enfrenta desafios de elevados investimentos, melhora na infraestrutura, logística reversa, políticas públicas, incentivos, para que seja possível sua aplicação em larga escala.

4. Recuperação Energética

É o conjunto das diferentes tecnologias para obtenção de energia (calor ou eletricidade), de forma controlada e ambientalmente adequada, a partir de resíduos. Inclui ações como o coprocessamento de resíduos em cimenteiras, a queima do bagaço de cana-de-açúcar, o biometano de aterros, entre outras possibilidades.

Em certas situações, a recuperação de resíduos biodegradáveis pode produzir simultaneamente energia e materiais. Em outros casos, podem ser produzidos combustíveis derivados dos resíduos para substituir aqueles de origem fóssil. Existem casos em que recursos considerados não recuperáveis por outras estratégias, mas que possuem potencial calorífico, passam a ter alternativa de recuperação, evitando sua disposição final em aterros.

Independentemente da tecnologia, deve-se observar sempre a hierarquia de gestão, assegurando que a recuperação energética seja a última possibilidade de resgatar valor dos resíduos antes da disposição final em aterros.

FONTE: Portal da Industria

A reciclagem de plástico no Brasil

Essa indústria é composta por empresas que adquirem resíduos plásticos pós-consumo e pós-industrial e os transformam em matérias-primas circulares para a fabricação de novos produtos. Seus fornecedores são cooperativas de triagem de materiais recicláveis e o comércio intermediário de resíduos. Seus clientes, por sua vez, são as empresas da indústria de transformados plásticos ou grandes marcas, em alguns casos, se o reciclador possuir sua unidade de fabricação de produtos.

A indústria de reciclagem de plástico conta com mais de 14 mil empregos e mais de 1,3 mil empresas em todo o Brasil. O ano de 2023 trouxe desafios significativos para a indústria de reciclagem de plásticos no Brasil. Essa percepção do mercado foi comprovada pelo estudo anual sobre a reciclagem mecânica do material, encomendado pelo Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PICPlast, uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), representante do setor de transformados plásticos e reciclagem, e a Braskem.

O estudo é realizado anualmente, desde 2018, pela MaxiQuim, empresa de avaliação de negócios na indústria química com foco em análise de mercados e competitividade, e tem como objetivo mensurar o tamanho da indústria de reciclagem de plásticos no Brasil, acompanhando a evolução anual e os desafios do setor.

Acesse o estudo completo em Picplast.

Os desafios para a reciclagem do plástico no Brasil envolvem principalmente a falta de infraestrutura adequada, o alto custo de logística reversa para coleta e separação dos resíduos e a necessidade de conscientização da população em relação à separação correta dos materiais recicláveis. 

No entanto, iniciativas públicas e privadas têm investido em projetos para melhorar a reciclagem do plástico, como a expansão de cooperativas de catadores e programas de educação ambiental.

Um exemplo de iniciativa bem-sucedida é a plataforma Recircula Brasil que foi elaborada com o objetivo de rastrear os resíduos plásticos, desde sua origem até a reinserção como matéria-prima na fabricação de um novo produto. A ferramenta, considerada pioneira no setor, ajuda a promover a reciclagem, uma das vertentes da economia circular, além de permitir o mapeamento dessa cadeia produtiva. A plataforma é resultado de uma parceria entre a ABIPLAST e a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e desenvolvida pela Central de Custódia, verificadora de resultados independente.

Para mais detalhes, acesse Abiplast.

Outro exemplo de iniciativa bem-sucedida é o programa “Recicla Sampa”, que promove a conscientização e facilita a coleta seletiva na cidade de São Paulo, incentivando os moradores a separarem seus resíduos e proporcionando infraestrutura para a coleta, dentre outros que serão aos poucos inseridos neste canal.

Benefícios da reciclagem

Pessoas fazendo reciclagem do plástico.

A reciclagem oferece uma série de benefícios significativos para o meio ambiente, a economia e a sociedade como um todo. Além de reduzir o acúmulo de resíduos, a reciclagem promove a conservação dos recursos naturais finitos e gera oportunidades econômicas e inclusão social. Entre os principais benefícios estão:

  • Economia de recursos naturais: a reciclagem evita a extração de recursos naturais finitos, como o petróleo, que é usado na produção de matérias-primas virgens para produção de plásticos. Dessa forma, o uso de plástico reciclado contribui para preservar os recursos não renováveis e reduzir os impactos ambientais associados à extração e ao processamento de matérias-primas.
  • Redução das emissões de gases de efeito estufa: a produção de plástico reciclado consome menos energia do que a fabricação de plástico a partir de matérias-primas virgens, resultando em uma menor emissão de gases de efeito estufa. Isso contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas, ao reduzir a pegada de carbono do setor industrial.
  • Redução do volume de resíduos em aterros sanitários: a reciclagem ajuda a diminuir a quantidade de resíduos que vão para aterros sanitários e lixões, aumentando a vida útil desses locais e contribuindo para uma melhor gestão de resíduos. Isso reduz os impactos negativos associados à contaminação do solo e da água, além de diminuir os problemas relacionados ao manejo inadequado do lixo urbano.
  • Geração de empregos e inclusão social: a cadeia da reciclagem é responsável pela criação de milhares de empregos, desde a coleta e separação dos resíduos até o processamento final. Além de fomentar a economia local, a reciclagem oferece oportunidades de trabalho para catadores e cooperativas, promovendo inclusão social e desenvolvimento econômico em comunidades vulneráveis.

Como podemos contribuir para a reciclagem?

A reciclagem de resíduos depende não só de investimentos do setor privado, mas também da participação ativa da sociedade civil, instituições financeiras, instituições acadêmicas e governo. Algumas maneiras de engajamento de cada parte envolvida contribuir incluem:

  1. Produtores e transformadores de plásticos: maior utilização de plásticos pós-consumo como insumos e aumento da produção de plásticos circulares pelos fabricantes, projetar produtos e embalagens de plástico com base nos princípios da economia circular, implantar inovações para permitir a circularidade, considerando diferentes tecnologias de reciclagem, pesquisa avançada e compreensão científica do uso e gerenciamento de plásticos.
  2. Instituições financeiras: por exemplo, intervindo com doações, empréstimos e investimentos para desbloquear tecnologias de coleta, classificação e reciclagem.
  3. Marcas, varejistas e usuários de plásticos a jusante: reduzindo o uso de materiais sempre que possível e escolhendo o material mais sustentável para a aplicação com base em uma abordagem de ciclo de vida, projetando produtos e embalagens com base nos princípios da economia circular, aumentando o uso de materiais recicláveis e conteúdo reciclado, por exemplo.
  4. Recicladores e gestores de resíduos: aumentando os rendimentos da reciclagem por meio de avanços tecnológicos em coleta, classificação e reciclagem, firmando parceria com diferentes setores para criar mercados para produtos e embalagens feitos de material pós-consumo.
  5. Instituições acadêmicas: pesquisa avançada e compreensão científica do uso e gerenciamento de plásticos, realização de estudos objetivos e baseados em evidências em todo o ciclo de vida dos plásticos, incluindo impactos de alternativas.
  6. Sociedade civil: separar corretamente os resíduos contribui e facilita para o processo de reciclagem.
  7. Governo: políticas públicas para implementação de novas tecnologias, logística reversa, melhoria em infraestrutura, gestão de resíduos, promoção do re-design para circularidade e do uso de conteúdo reciclado para embalagens.

A importância da reciclagem para um futuro sustentável

A reciclagem de plástico é uma alternativa sustentável e necessária para reduzir o impacto ambiental causado pelo descarte inadequado. Cada um dos processos apresentados – desde a reciclagem mecânica até a química – contribuem, de maneiras distintas e complementares, para dar um destino mais eficiente e sustentável aos resíduos plásticos.

Para implementação da reciclagem química no país, são necessárias políticas públicas que considerem: 

  • Responsabilidade estendida do produtor (EPR) que garantam a não concorrência entre reciclagem mecânica e química, mas sim que se complementem; 
  • Definições de conteúdo reciclado que estimulem a demanda e investimentos, com normatizações e estímulos financeiros; 
  • Metas de reciclagem; 
  • Definições de papéis e responsabilidades dos agentes econômicos de todos os envolvidos; 
  • Garantir mecanismos de financiamento para implementação de plano de ações nacionais, que considerem tanto os investimentos em plantas de reciclagem, como ações de comunicação e educação; 
  • Garantir normativas claras para definição de design de produto; 
  • Tecnologias de reciclagem disponíveis e condições de demanda de mercado que possibilitem que o material seja efetivamente reciclado. 

O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quando se trata da reciclagem de plástico, mas os esforços tanto da indústria quanto da sociedade são essenciais para alcançar um futuro mais verde e circular. Reciclar é mais do que um ato ambiental – é um compromisso com as próximas gerações e com o planeta.

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