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Economia Circular: o que é e como ela impacta a indústria química e a cadeia do plástico

Pessoa segurando plástico na economia circular.

A Economia Circular tornou-se uma das principais prioridades da sociedade contemporânea, especialmente na indústria química e na cadeia do plástico, que busca soluções alternativas para promover a sustentabilidade e enfrentar os desafios ambientais globais.

A indústria química é provedora de soluções para quase todos os setores industriais, tais como agricultura, construção civil, setor automotivo, eletroeletrônicos, serviços de saúde, entre outros, desenvolvendo e difundindo produtos sustentáveis que ajudam a preservar o planeta e melhorar a qualidade de vida e a longevidade da população.

O conceito de economia circular surge como uma abordagem inovadora e essencial para tornar o consumo de produtos e materiais mais eficiente e sustentável, minimizando seu impacto ambiental. Através da reutilização e reciclagem, a Economia Circular contribui para uma mudança de paradigma na forma como extraímos, produzimos, transformamos, utilizamos, descartamos e reaproveitamos os recursos naturais finitos. 

Mas, afinal, o que é Economia Circular e como ela impacta a indústria química e a cadeia do plástico? Vamos explorar esse conceito e suas aplicações na prática.

O que é Economia Circular?

Segundo a Associação Brasileira das Normas Técnicas (ABNT), que lançou recentemente normas técnicas sobre economia circular, Economia Circular é:

“sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter um fluxo circular de recursos, ao recuperar, reter ou agregar valor a esses recursos, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento sustentável” (ABNT NBR ISO 59004:2004, item 3.1.1)

Ou seja, um conceito que desafia o modelo tradicional linear de produção e consumo, conhecido como “extrair, produzir e descartar”, e assim busca uma “gestão estratégica dos recursos”.

Em vez de um fluxo linear, a Economia Circular visa criar ciclos regenerativos, onde os recursos são reutilizados e reaproveitados colaborando para o desenvolvimento sustentável justamente por reduzir os impactos ambientais dos processos envolvidos em obter, usar e descartar materiais e produtos, buscando minimizar o desperdício, promovendo a reutilização e garantindo que materiais e produtos retornem ao ciclo produtivo de forma eficaz, mantendo-os em ciclos de uso pela sociedade pelo maior tempo possível.

Na indústria química e na cadeia do plástico, isso significa repensar como esses materiais são fabricados, usados e descartados. A ideia é transformar o resíduo em um recurso valioso, incentivando o uso de tecnologias e processos que possibilitem a reciclagem e a criação de novos produtos a partir de resíduos.

Como funciona a Economia Circular na prática?

Na prática, para que a Economia Circular ocorra de forma consistente, as normas ABNT NBR ISO propõem um conjunto de seis princípios, interligados e complementares, que devem ser considerados na transição para uma economia circular, que incluem:

  • Pensamento sistêmico: considerar todo o ciclo de vida dos produtos e serviços em uma visão de longo prazo que considere as interações entre os sistemas ambiental, social e econômico.
  • Geração de valor: fornecer produtos e serviços que retenham, agreguem ou recuperem valor ambiental, social e econômico, de forma eficaz, promovendo o uso racional dos recursos.
  • Compartilhamento de valor: colaborar, de forma inclusiva e equitativa, com as partes interessadas e suas cadeias ou redes de valor, compartilhando o valor gerado e promovendo o bem-estar da sociedade.
  • Gerenciamento de recursos: gerenciar, de forma sustentável, os estoques e fluxos de recursos para reduzir riscos da dependência e assegurar a disponibilidade futura de recursos virgens.
  • Rastreabilidade de recursos: coletar e manter dados para permitir a rastreabilidade dos recursos ao longo das cadeias de valor e compartilhar estas informações com as suas partes interessadas.
  • Resiliência dos ecossistemas: desenvolver e implementar práticas que protejam e colaborem para a resiliência e regeneração dos ecossistemas e da biodiversidade, considerando os limites dos sistemas naturais.

Quais ações contribuem para que a Economia Circular funcione na prática?

  • Design para a Circularidade: é quando se integram os princípios da economia circular como prática de projeto, permitindo ou facilitando a adoção das demais ações ao longo do ciclo de vida do produto. Leva em conta aspectos como menor consumo de recursos, durabilidade do produto, possibilidade de manutenção, reparo ou reuso, facilidade de recuperação ou reciclagem, entre outros. Os produtos devem ser projetados de forma que possam ser facilmente desmontados e reciclados. Isso significa sempre considerar o menor consumo de recursos e monomateriais diferentes que proporcionem a reciclabilidade.
  • Manutenção e Reutilização: estender a vida útil dos produtos através da manutenção, conserto e reutilização contribui para a retenção de valor preservando ao máximo a função de um produto, ou mesmo mantendo o produto em condições de uso, aumentando sua durabilidade ou permitindo seu reparo.
  • Reciclagem e Recuperação: para aqueles recursos considerados não recuperáveis e que chegam ao fim de sua vida útil existe um conjunto de diferentes tecnologias de reciclagem e recuperação que evitam a disposição final em aterros. Independentemente da tecnologia, deve-se observar sempre a hierarquia de gestão, e a reciclagem tem um papel essencial para minimizar a necessidade de novas matérias-primas.

Essas práticas visam promover a economia circular agregando valor aos recursos, ou seja, aumentando o seu valor como estratégia para manter um fluxo contínuo e evitar que recursos sejam desperdiçados, e assim serem reincorporados ao processo produtivo, criando valor continuamente.

Economia Circular x Economia Linear: qual a diferença?

A Economia Linear, que é o modelo predominante, consiste em um ciclo que se encerra após o descarte do produto. A indústria retira recursos naturais, produz bens e, depois do consumo, os resíduos são descartados, muitas vezes em aterros ou no meio ambiente. Esse modelo não considera a revalorização dos materiais e gera altos níveis de desperdício.

Por outro lado, a Economia Circular é uma alternativa eficiente e sustentável para tentar manter os recursos dentro de um ciclo produtivo. O objetivo é reduzir a geração de resíduo e maximizar o aproveitamento dos materiais, o que contribui significativamente para a preservação do meio ambiente e para a redução dos custos de produção.

Impacto da Economia Circular na indústria química e na cadeia do plástico

A indústria química tem um longo histórico de avanços no aprimoramento de suas operações. O esforço das empresas para desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias que atuam no controle e monitoramento de processos, na melhoria da eficiência, no reuso de recursos e na automação, em uma visão alinhada com as melhores estratégias internacionais voltadas para a gestão segura de produtos, são elementos que produziram resultados de excelência, que apoiam a ideia da revalorização de resíduos para que retornem aos ciclos de produção como matéria-prima valiosa, e não sejam tratados ou descartados como resíduos sem valor.

A indústria química e a cadeia de plástico estão em um ponto de transformação, buscando soluções inovadoras para melhorar a gestão de resíduos e atender à crescente demanda por sustentabilidade e evoluir para um modelo econômico que seja compatível com limite dos recursos naturais finitos. 

Em termos gerais, é consenso que Economia Circular apoia a sustentabilidade das operações de todos os setores industriais ao promover a utilização de recursos e materiais em ciclos contínuos, eliminando desperdícios e resíduos, gerando desta forma valor para todos os elos das cadeias.

Para explorar todo o potencial de uma economia circular, a indústria, a cadeia de valor e os legisladores, juntamente com todas as partes interessadas, devem levar em consideração os seguintes princípios:

  • Segurança em primeiro lugar: a circulação de recursos deve ser gerenciada de forma transparente, de forma a prover máxima segurança para trabalhadores, consumidores e para o meio ambiente. Os recursos a serem geridos de maneira circular têm que ser comprovadamente seguros, caso contrário a solução não é implementada.
  • Pensamento do ciclo de vida: é necessário priorizar o uso de materiais inovadores e de abordagens de design que promovam novos modelos de negócios, que levem em conta todo o ciclo de vida dos produtos – com especial atenção ao fim de vida do produto, para eliminar o conceito de resíduo e implementar a abordagem “do berço ao berço” (“crade-to-cradle”) em substituição ao modelo linear “berço ao túmulo” (“cradle-to-grave”). O objetivo permanente é buscar eficiência operacional máxima, reutilizar materiais e conservar recursos, a fim de manter o valor dos recursos por mais tempo na economia, levando em consideração todos os possíveis impactos que um produto possa gerar ao longo do seu ciclo de vida. As Avaliações de Ciclo de Vida (ACV) são uma ferramenta importante neste caminho para a circularidade dos processos e devem ser utilizadas para dar suporte técnico às análises.
  • Abordagem holística da cadeia de valor: criar parcerias em toda a cadeia de valor (incluindo, por exemplo, fabricantes de produtos químicos, distribuidores, usuários e consumidores), podendo inclusive envolver diversos elos destas cadeias em projetos comuns, é o caminho certo a seguir.
  • Redução da assimetria de informações: aumentar tanto quanto possível a transparência de dados entre os produtores da indústria química e outros atores, como varejistas, proprietários de marcas e a sociedade, de modo a promover a transparência e impulsionar a circularidade. Isso representa um desafio de propriedade industrial e para a geração de inovações que promovam a sustentabilidade, mas deve merecer esforços das diversas partes envolvidas no sentido de promover esta transparência positiva para o sistema.

Onde se encaixa a reciclagem na Economia Circular?

A reciclagem está inserida na economia circular como mecanismo de aproveitamento de resíduos. Neste processo, materiais descartados retornam ao ciclo produtivo, sendo tratados como matérias-primas, quer para geração de novos produtos ou de energia, e assim são reintroduzidos na cadeia.

Diferença de Reciclagem e Reuso: a reutilização ou reuso são termos utilizados para designar o resíduo que é aproveitado sem que tenha sofrido uma transformação, ou seja, é o reaproveitamento do material ou embalagem para um mesmo fim.

O que é reciclagem? 

“Qualquer operação de valorização através da qual os materiais constituintes dos resíduos são novamente transformados em produtos, materiais ou substâncias para o seu fim original ou para outros fins.” Fonte: Directiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho.

Tipos de Tratamento de Resíduo e de Reciclagem 

Reciclagem mecânica é o processamento de resíduos plásticos em matérias-primas ou produtos secundários sem alterar significativamente a estrutura química do material. Em princípio, todos os tipos de termoplásticos podem ser reciclados mecanicamente com pouco ou nenhum impacto na qualidade.

Reciclagem química é o termo dado a um grupo de tecnologias que podem converter resíduos plásticos misturados e/ou contaminados novamente em matérias-primas “virgens”.

Fonte: Plastic Europe (Acesso em Setembro 2023)

Caminhos para um futuro sustentável

Tendo a inexistência do conceito de resíduos como um dos seus pilares, o modelo circular de produção e consumo pressupõe que todos os recursos retornem aos processos em ciclos reversos, fechados, seja na mesma cadeia produtiva ou em outras cadeias de valor.

A indústria química participa ativamente de quase todas as cadeias produtivas da indústria e está presente em setores produtivos estratégicos e em um grau elevado de encadeamentos na economia. Por essa característica, a indústria química pode facilitar e alavancar a implementação da Economia Circular, estimulando conexões multisetoriais que permitirão o surgimento de soluções inovadoras e de novos modelos de negócio que fechem ciclos.

O setor está comprometido em colaborar com membros da indústria, governo, sociedade civil e instituições de pesquisa acadêmica, na busca de resultados que otimizem materiais, recursos e tecnologias para criar valor para todos.

Mesmo sendo a química uma facilitadora do progresso em direção ao desenvolvimento sustentável e a uma economia mais circular, há muito mais a fazer para uma transição completa para modelos de negócios em que os recursos são continuamente reciclados para eliminar o desperdício e manter o valor.

A economia circular só poderá desenvolver-se em um ambiente no qual a inovação e a educação sejam alicerces fundamentais do progresso industrial e econômico.

Também o desenvolvimento do contexto regulatório seguro e bem estruturado é fundamental para a implementação dos novos modelos circulares.

Esforços em temas de educação, regulação e o desenvolvimento de políticas que incentivem a adoção de práticas circulares, investimentos em nova infraestrutura necessária para os novos modelos, com linhas de financiamento, são necessários para que a agenda de Economia Circular ganhe força no Brasil.

Para que este processo possa ocorrer de maneira eficiente, torna-se necessária a participação da sociedade como um todo, o comprometimento de vários setores da iniciativa privada, dos governos em todas as esferas – federal, estadual e municipal – bem como do engajamento da sociedade civil.

Seguindo os princípios do modelo econômico circular, a ABIQUIM entende que a indústria química brasileira estará mais uma vez contribuindo para melhorar o contexto econômico, ambiental e social do país, garantindo sua sustentabilidade ao mesmo tempo em que reduz os impactos ao meio ambiente e fortalece os aspectos sociais.

Para que a indústria química e a cadeia do plástico se adaptem efetivamente à Economia Circular, é fundamental que todos os atores envolvidos assumam um compromisso genuíno com a mudança. Essa transição envolve uma série de ações coordenadas, desde a reformulação de processos produtivos até a criação de políticas públicas que incentivem práticas mais sustentáveis.

Conectando os pontos para um futuro sustentável

A indústria química é, por sua natureza, promotora de soluções de circularidade e provedora de soluções para o desenvolvimento sustentável de diversos setores. Soluções sustentáveis geradas na química, sendo uma indústria de base, permeiam diferentes cadeias produtivas, irradiando e difundindo progresso técnico por toda economia.

Dentre essas ações, estão soluções para circularidade de produtos e processos.

Tendo em vista:

  • a característica intrínseca de transversalidade da indústria química e potencial papel alavancador desta indústria na implementação de novos modelos;
  • a longa trajetória da ABIQUIM no fomento de melhorias de processos e da utilização racional de recursos na indústria química através do programa Atuação Responsável ® e outros programas coordenados e implementados com êxito pela associação no Brasil; e
  • a premente necessidade de mudança dos atuais modelos de produção e consumo lineares, baseados na extração-consumo-descarte de recursos, que apesar dos avanços e benefícios que trouxeram à sociedade nos últimos séculos, precisam ser revistos e modificados;

A indústria química e a cadeia do plástico têm, portanto, um papel vital na construção de um futuro mais sustentável. Ao abraçar os princípios da Economia Circular, não apenas contribui para a redução do impacto ambiental, mas também cria oportunidades de negócios, promove a inovação tecnológica e fortalece sua posição no mercado em um contexto cada vez mais focado em sustentabilidade.

A Economia Circular representa um grande avanço em termos de sustentabilidade e é uma oportunidade de transformação e inovação. Ao mudar o foco de um modelo linear para um circular, é possível criar processos mais eficientes, reduzir o desperdício e minimizar o impacto ambiental. Embora ainda existam desafios a serem superados, os benefícios para a sociedade e para o meio ambiente tornam a Economia Circular um caminho essencial para o futuro.

Adotar essa mentalidade significa repensar a forma como produzimos, consumimos e lidamos com nossos resíduos. A indústria química e a cadeia do plástico estão em um ponto de inflexão e, com a inovação e o comprometimento certo, podem se tornar um dos maiores exemplos de como a Economia Circular pode transformar setores inteiros.

A Indústria Química há muitos anos vem trabalhando, junto a seus associados, na redução dos impactos e riscos relacionados às instalações, processos, produtos e serviços. A ABIQUIM – Associação Brasileira da Indústria Química coordena no Brasil, desde 1992, o Programa Atuação Responsável®, iniciativa voluntária da indústria química global para sustentabilidade, meio ambiente, saúde e segurança, buscando sempre a melhoria contínua, o uso racional de recursos e a geração de menores impactos ambientais e sociais com melhor impacto econômico.

Fontes:

https://docs.google.com/viewer?url=https://abiquim-files.s3-us-west-2.amazonaws.com/uploads/guias_estudos/Posicionamento%20Economia%20Circular%20jun%2022_compressed%20(1).pdf&embeded=true 

https://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2024/10/economia-circular-na-pratica-guia-de-implementacao-segundo-serie-abnt-nbr-iso-59000

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